ASSISTENTE DE LIMPEZA ENCONTRA R$ 800 E DEVOLVE PARA O DONO NO RS.
Quantia encontrada equivale ao salário mensal de Vera Lúcia, de 55 anos. Dinheiro estava espalhado em cadeira e no chão de sala de órgão público.
O trabalho da assistente de limpeza Vera Lúcia dos Santos da Rosa, 55 anos, estava apenas no começo na manhã de quarta-feira (20) quando encontrou cerca de R$ 800 espalhados por uma cadeira e no chão de uma sala de um órgão público, em Porto Alegre. Passava das 7h e ela estava sozinha no local.
Mas não pensou duas vezes. Pegou o dinheiro e entregou para um estagiário, a primeira pessoa que tinha visto pela frente. "Com a mesma mão que eu peguei o dinheiro, eu devolvi." Diz que não chegou a contar o dinheiro, mas soube depois que era quase igual ao seu salário. "Dinheiro vai, dinheiro vem. E vou a luta todo dia, acordo cedinho, às 5h."
A assistente de limpeza diz que não pensou duas vezes para devolver o dinheiro. Para ela, o gesto remeteu a educação passada por sua avó, que praticamente a criou. "Ela falava: 'Achou, não é teu, pode devolver'."
O incidente ocorreu no prédio do Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), em Porto Alegre, onde estão reunidas as secretarias estaduais do governo do Rio Grande do Sul. A sala onde foi encontrado o dinheiro fica no 7º andar do edifício, onde está instalada a Secretaria de Transportes.
No local, Vera Lúcia trabalha há menos de dois meses. Começou no dia 2 de dezembro do ano passado apenas para cobrir férias de uma colega, mas acabou ficando. "O pessoal acabou gostando de mim e eu fiquei." Começou ali após mais de um ano desempregada, só fazendo bicos em casa de família.
Saiu do último emprego por conta própria. Trabalhava como serviços gerais em uma clínica de reabilitação de dependentes químicos, onde estava há cinco anos. Pediu demissão em novembro de 2014 e, a contragosto, o chefe aceitou. "Ele gostava muito de mim, não queria que eu saísse." Fez um acordo com o patrão e recebeu pouco mais de R$ 11 mil.
Mas não usufruiu do dinheiro. Pelo contrário, deu o valor total para a filha construir uma casa. "Queria ajudar minha filha a construir a casa, já que o sogro dela é mestre de obras. Ela estava morando de favor na casa de um tio do marido dela." A casa saiu do papel. "E o resultado?", questiona o G1 para a assistente de limpeza. "Ficou um docinho."
Mas Vera Lúcia "ficou sem nada" e continua morando em uma "casinha de madeira" na Vila João Pessoa, no bairro Partenon, Zona Leste de Porto Alegre. E ali que, todo dia, a assistente de limpeza acorda às 5h, duas horas antes de começar o expediente, onde permanece 8 horas.
Quase próximo de fechar o horário nesta quinta-feira (21), assistente de limpeza explica que a palavra "trabalho" começou a ser ouvido já aos 16 anos. Estudava em São Paulo, para onde foi morar com a avó com 12 anos. Mas não queria mais seguir os estudos e parou na 6º série.
"Eu fugia da escola. Disse para minha avó que não queria estudar mais. Ela aceitou, contrariada. Mas tinha que iria trabalhar." Começou como babá e depois passou a fazer limpezas em casa de família. Voltou para o Rio Grande do Sul aos 27 anos, com a filha de 2 anos no colo. "Queria ficar perto dos meus parentes."
"Não fez mais que sua obrigação", diz dono de dinheiro.
Após entregar o dinheiro para o estagiário, começou a busca pelo dono do dinheiro. Funcionários da Secretaria de Transportes levantaram quem teria passado pela sala. Descobriram se tratar do empresário Adroaldo Couto, 68 anos, que veio de Taquari, no Vale do Taquari, para revolver o problema de um bueiro em uma estrada de chão próximo a General Câmara.
A reportagem do G1 entrou em contato por telefone com Couto na tarde desta quinta-feira (21). Visivelmente irritado, o homem disse que a assistente de limpeza "não fez mais que sua obrigação" e que deu metade do dinheiro encontrado para ela, como recompensa. Vera Lúcia, por outro lado, observa que recebeu R$ 200.
G1 RS.